quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Mensagem da Bíblia



A Bíblia não nos fala de Deus à maneira dos outros livros: nela Deus fala-nos de Si mesmo, o que é diferente.

Tanto o Antigo como o Novo Testamento são Palavra de Deus, palavra viva e vivificante.

Existe certamente na Bíblia - além da narração de factos históricos - todo um sublime corpo de ensinamentos; deles se desprende uma profunda filosofia e todo um conjunto de princípios éticos.

Mas a apresentação de todo esse tesouro de verdades efectua-se de modo concreto, vivo; porque está ligado a acontecimentos reais, intervenções de Deus na histótia: p.ex., os primeiros capítulos do Gênesis, ao narrarmos as origens do mundo e do homem, contém uns ensinamentos profundos não só de ordem sobrenatural, mas também natural, como que Deus criou do nada todos os seres; quando lemos que Deus criou os céus e a terra , vemos imediatamente que o Senhor é criador e transcendente ao mundo, que o homem é criatura sua.

A Bíblia contém o mais importante da história humana em ordem à nossa salvação; através dessa história, e como motor interno que a impulsiona, há outra realidade, histórica também, menos perceptível: os impulsos, forças e sentimentos que Deus foi colocando nos protagonistas dessa história ou nos autores sagrados que puseram por escrito tais acontecimentos. Há pois, no interior dessa história humana como que outra história que faz Deus através de nós os homens, em nosso favor e com nossa colaboração ou apesar de nós.

Fundamentalmente a Bíblia é História da Salvação, ou melhor dito, a história da salvação divina dos homens E no meio dela ergue-se a chave para entender esta história: a Morte e Ressurreição de Jesus

Com efeito, a Cruz é a grande explicação dessa história: Para salvar o mundo, Deus faz-se homem e deixa-Se cravar na Cruz como um malfeitor; mas ao terceiro dia ressuscita de entre os mortos Assim salva Deus a humanidade da escravidão do pecado, da morte e do demônio

Essa Encarnação- Morte- Ressurreição, ou dito de outro modo, esse misterioso Deus-Homem, Jesus Cristo, é efetivamente, o centro da Bíblia: desde as primeiras páginas de Genesis, até do Apocalípse, tudo tende primeiro para Cristo morto e ressuscitado.

E uma vez que a Cruz foi levantada nos subúrbios de Jerusalém e no centro da história , esta e o mundo não podem ter sentido algum à margem desta Cruz. Nesse momento a História da Salvação alcança o seu ponto culminante. O maior Amor de Deus, Todo-poderoso, humilhando-Se até a morte , alcança a vitória sobre esta, sobre o mal, sobre as potencias demoníacas. Aí está o mistério da Cruz: para viver, morre-se, para ganhar, perde-se

Antes de Jesus, desde a queda original dos nossos primeiros pais, tudo é promessa, preparação, espera. Depois, tudo é cumprimento, realidade, ainda que também em esperança e em fé, que chegue a consumaçao dos séculos.

A história bíblica tem também um começo, mas, ao contrário da história profana, que só narra episódios já acontecidos, a Bíblia tem um fim, um futuro, já em certo modo escrito. Esse começo é a criação do homem e a sua imediata elevação a um estado de justiça e santidade, de felicidade, dramaticamente perdido. O fim é a visão do Céu, sob a imagem de Jerusalém celeste, a futura Cidade Santa de Deus. Esta história bíblica desenvolve-se através do tempo e do espaço.

Podemos dividi-la, a grandes traços, em algumas idades:

1ª - Depois de perdido o paraíso, os tempos correram lentamente: Deus, uma vez cometido o pecado original pelos nossos primeiros pais, promete o futuro Salvador, que nasceria da estirpe da Mulher. E decorreram os séculos em que Deus não abandonou de todo a humanidade. Assim,manifestou a Sua misericórdia com os antigos patriarcas, como Henoc, e sobretudo Noé, com quem entrou em relações especiais de aliança.

No discurso aos ateneienses no Aerópago, São Paulo chama a esta idade de "os tempos da ignorancia", e na sua carta aos Romanos, "tempo da paciencia de Deus"; no discurso aos cidadãos de Licaonia diz São Paulo que nessa idade Deus permitiu que as gentes seguissem os seus próprios caminhos. Durante este período Deus " tem paciencia, tolera que a humanidade experimente em si mesma as consequencias funestas do pecado e da ignorancia sobre o verdadeiro Deus"

2ª - Chegado um determinado momento, o Senhor intervém de modo mais decisivo na história humana: é a voceção de Abraão seguida da promessa: "em ti ( na tua descendência) serão abençoados todas as tribos da terra"

Este é o " tempo da promessa" segundo o discurso de Santo Estevão. Desde então a humanidade anda dividida: de um lado, o povo que nasce de Abrãao; de outro, o grande resto da humanidade, os gentios. A vida humana, fora do povo eleito, regia-se pelos princípios esculpidos por Deus na consciencia, esses homens podiam salvar-se mediante o cumprimento da lei natural, já que o Senhor não nega a graça a quem faz o que está a seu alcance. Mas os homens, em grande proporção, afogaram a voz da sua consciencia e viveram no pecado.

3ª - Uma nova intervenção divina inicia como que uma terceira idade, o "tempo da Lei".

Deus escolhe desta vez Moisés, revelando-lhe a sua própria intimidade no episódio da sarça ardente e estabelecendo um pacto, a Aliança do Sinai , em que dá aos Hebreus a Lei, que teriam que cumprir para mostrar a sua fidelidade à Aliança. Deus transforma assim os clãs hebreus no Seu Povo, o povo de Deus . Desde então ( séc. XIII a.C.) até Jesus Cristo, a história bíblica não é senão a história da Aliança antiga, a história do Antigo testamento

A Aliança juntamente com a Lei dada por meio de Moisés, ponto de arranque do povo eleito, serão o centro do ressurgimento para o qual Israel deverá tornar uma e outra vez depois das suas crises, para permanecer fiel `a sua vocação de Povo de Deus.

Em momentos graves, ou especialmente solenes, renovar-se-á a antiga Aliança. Decorrerão épocas diversas:

A da conquista de Canaã sob a chefia de Josué ( fins dos séc.XII a.C.); o período das tribos dispersas ( séc. XII e primeira metade do séc.XI), agrupadas parcial e ocasionalmente sob os Juízes os longos sécs da monarquia Hebraica ( séc. XI - VI a.C.) em que os Profetas exercerão um ministério religioso transcendente e voltarão a exortar o povo e os seus dirigentes para que regressem ao espírito autentico da Aliança e da Lei; a grande crise nacional e religiosa do exílio de Babilônia terrível prova da qual a alma Israelita se refaz graças aos Profetas e a alguns dirigentes de profunda religiosidade, como Neemias e Esdras e finalmente, o longo período posterior ao exílio ( séc. V ao I a.C) não isento de perigos e momentos graves, como a helenização forçada a que os monarcas seleucidas de Síria quizeram submeter sob chefia dos Macabeus

Durante estes longos seculos foi-se forjando ao mesmo tempo a religião e a História de Israel

A impulsos do Espírito divino os juízes, os reis e os chefes defenderam a independencia nacional, condição necessária para conservar a pureza monoteísta da religião revela do AT.

Com o impulso do mesmo Espírito, os Profetas foram ensinando as verdades da Revelação: uns acentuaram a responsabilidade moral e social do Povo de Deus (Amós); outros o infinito e entranhável amor de Deus pelo Seu povo ( Oseias);ou a inefável transcendencia da magestade divina (Isaias);ou então a necessidade da confiança sem limites em Deus (Jeremias) ou a responsabilidade individual perante o anonimato da coletividade (Ezequiel) etc.

Entretanto um rio condutor da esperança foi-se tornando cada vez mais caudaloso, formando a via da pregação profetica: o messianismo do AT, que terá o seu cumprimento na Pessoa e na obra de Jesus, o Cristo, o Messias

Ao mesmo tempo, e sobretudo nos últimos séculos da história do AT e também a impulsos do mesmo Espírito divino se foi desenvolvendo a sabedoria hebraica: espíritos seletos, escolhidos por Deus, formados na meditação da Lei e nos ensinamentos dos Profetas, e cultivados na reflexão profunda sobre a vida, irão cultivando, sob a inspiração do Espírito Santo, a chamada literatura sapiencial do Antigo testamento, que completará a Revelação, preparando os homens para a vinda do Messias salvador na “ plenitude dos tempos”.

4ª – Por fim, a ” a plenitude dos tempos”: A encarnação do Verbo de Deus, Jesus Cristo.

Pela Sua vida sobre a terra, pelo Seu sacrifício na Cruz, seguido da Sua ressurreição gloriosa, Cristo alcança a vitória sobre os poderes e forças que escravizam a humanidade. Jesus traz como que uma nova e definitiva criação, ainda que muito diferente da primeira.

Ele é o novo Adão – segundo a imagem de São Paulo – primogênito de toda a criação renovada: Ele é a Cabeça do novo Povo de Deus, a Igreja, não baseado sobre a “carne e o sangue”, mas no espírito e na caridade, na Nova Aliança no próprio Sangue de Jesus. Pela Sua Ressurreição e Ascenção ao Céu, a Humanidade de Jesus, unida a Sua divindade na mesma e única Pessoa do Verbo (união hipostática) recebe do Pai o domínio sobre toda a criação , visível e invisível, terrestre e celeste: começaram os Últimos tempos da história.

Fonte: Bíblia de Navarra

Veja AQUI a primeira parte do Estudo

Depois veremos: Quais são os livros que integram a Bíblia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário