sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A perfeição consiste nos preceitos ou nos conselhos?


Vimos que a perfeição consiste essencialmente no amor de Deus e do proximo, levado ao sacrifício.

Ora, relativamente ao amor de Deus e ao sacrifício, há preceitos e conselhos; preceitos, que nos mandam, sob pena de pecado, fazer tal ou tal coisa ou abster-nos dela; conselhos, que nos convidam a fazer por Deus mais do que e mandado, sob pena de imperfeição voluntaria e de resistência a graça.

Nosso Senhor Jesus Cristo alude a isto, quando declara ao jovem rico: "Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos... Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, da-o aos pobres, e teras um tesouro no ceu, e vem e segue-me"

Assim pois, observar as leis da justiça e caridade em materia de propriedade, basta para entrar no céu; mas, quem quiser se perfeito, há de vender os seus bens, dar o preço aos pobres e praticar assim a pobreza voluntaria. São Paulo faz-nos tambem notar que a virgindade é um conselho e não um preceito; que contrair matrimônio é bom, mas que ficar virgem e ainda melhor.

A solução.

Alguns autores concluiram daqui que a vida cristã consiste na observancia dos preceitos, e a perfeição nos conselhos. É maneira de ver as coisas um tanto superficial, e que, mal compreendida, levaria a consequências funestas. Em realidade, a perfeição exige primariamente o cumprimento dos preceitos, secundariamente a observancia dum certo numero de conselhos.

É esta sem duvida a doutrina de Santo Tomas Depois de ter provado que a perfeição não é senão o amor de Deus e do próximo, conclui que na pratica consiste essencialmente nos preceitos, entre os quais o principal é o da caridade, e secundariamente nos conselhos, que todos se referem igualmente a caridade, pois removem os obstaculos que se opoem ao seu exercíio.

Expliquemos esta doutrina.

A) A perfeição exige antes de tudo e imperiosamente o cumprimento dos preceitos; e é de soberana importancia inculcar fortemente esta noção a certas pessoas que, por exemplo, sob pretexto de devoção, esquecem os seus deveres de estado, ou, para fazerem esmolas com mais aparato, retardam indefinidamente o pagamento das suas dívidas; numa palavra, a todas as que desprezam este ou aquele preceito do Decalogo, aspirando a mais elevada perfeição.

Ora, é evidente que a violação dum preceito grave, como o de pagar as suas dívidas, destroi em nós a caridade, e que o pretexto de dar esmola não pode justificar esta infração da lei natural. Do mesmo modo a transgressão voluntaria dum preceito em materia leve é pecado venial, que, sem destruir a caridade, dificulta mais ou menos o seu exercicio e sobretudo ofende a Deus e diminui a nossa intimidade com Ele; isto é sobretudo verdade do pecado venial deliberado e frequente, que cria em nos afeições desordenadas e nos impede de voar livremente para a perfeição. É necessário, pois, antes de tudo, para se perfeito, guardar os mandamentos.

B) Mas é necessario acrescentar a observancia dos conselhos, de alguns ao menos, daqueles em particular que o cumprimento dos nossos deveres de estado nos impoe.

a) Assim, os Religiosos, uma vez que se obrigaram por voto a praticar os três grandes conselhos evangelicos de pobreza, castidade e obediencia, não podem evidentemente santificar-se, sem serem fieis aos seus votos. Demais, este exercicio facilita singularmente o amor de Deus, desprendendo a alma dos principals obstaculos que se opoem a divina caridade: a pobreza, arrancando-os ao amor desordenado das riquezas, favorece os voos do coração para Deus e para os bens do ceu; a castidade, preservando-os dos prazeres da carne, ainda mesmo daqueles que o santo estado do matrimonio autoriza, permite-lhes amar a Deus sem restrição: a obediência, combatendo o orgulho e o espirito de independencia, submete a sua vontade a de Deus, e esta obediência não é em última analise senão um ato de amor de Deus.

b) Quanto aqueles que não fizeram votos, para serem perfeitos, devem exercitar o espirito desses mesmos votos, cada um segundo a sua condição, as inspirações da graça e os conselhos dum prudente diretor. Assim praticarão o espírito de pobreza, privando-se de muitas coisas inuteis, no intuito de economizar alguns recursos para esmolas e obras de zelo; o espírito de castidade, ainda mesmo que sejam casados, usando com moderação e algumas restrições dos prazeres legitimos do matrimonio, e sobretudo evitando com cuidado tudo quanto e proibido ou perigoso; o espírito de obediencia, submetendo-se com docilidade a seus superiores, nos quais verão a imagem de Deus, e as inspirações da graça, contrastadas por um prudente diretor.

Assim pois, amar a Deus e ao próximo por Deus, e saber sacrificar-se, para melhor cumprir este duplo preceito e os conselhos que lhe dizem respeito, cada qual segundo o seu estado, eis a verdadeira perfeição

Veja AQUI todo estudo

Depois veremos: dos diversos graus de perfeiçao

Um comentário:

  1. Esta formação proporciona uma providente "podada" nos conceitos distorcidos de caridade que tanto confundem o povo de Deus nesses dias.

    Uma chave para a compreensão do texto está no ultimo parágrafo quando diz: "saber sacrificar-se"

    E assim submetermos as nossas vontades a vontade a de Deus!

    Anizio Filho
    Paz e bem.

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