sábado, 18 de fevereiro de 2012

Tem de haver uma causa primeira?



Por Alfonso Aguiló

"- Não conheço nenhum oleiro - disse o vaso de barro - Nasci por mim mesmo e sou eterno."
"- Ficou louco, coitado. O barro subiu-lhe à cabeça."


"Assim expressava Franz Binhack, na sua obra Topfer und Topf ( "Oleiro e vaso"), com um certo toque de humor, o que há de ridículo na atitude de quem fecha os olhos ante a inevitável pergunta sobre a origem do primeiro ser.

Se de uma torneira sai água, é porque existe um encanamento que transporta esta água. E essa tubulação recebe-la-á de outra, e essa, por sua vez, de outra. Mas, em algum momento, os canos vão acabar e chegaremos ao reservatório. Ninguém afirmaria que sempre há agua na torneira simplismente porque os canos tem um comprimento infinito.

"Do nada - afirma Leo J.Trese - não podemos obter coisa alguma. Se não temos bolotas, não podemos plantar um carvalho. Sem pais não há filhos" - Portanto se não existisse um Ser que fosse eterno (isto é um Ser que nunca tivesse começado a existir) e onipotente (capaz de fazer do nada alguma coisa), não existiria o mundo, e nós também não existiríamos.

"Um carvalho origina-se de uma bolota, mas as bolotas crescem nos carvalhos. Quem fez a primeira bolota ou o primeiro carvalho?"

Alguns evolucionistas diriam que tudo começou a partir de uma massa informe de átomos. Está bem, mas... quem criou essa massa de átomos? De onde procediam? Quem foi que dirigiu a evolução desses átomos, conforme leis que podemos descobrir, e que evitaram um desenvolvimento caótico? Alguém teve de faze-lo. Alguém que, desde toda a eternidade, tenha possuído uma existencia independente.

Houve um tempo em que não existiu nenhum dos seres deste mundo, cada um deles deverá sempre a sua existencia a outro ser. Todos, tanto vivos como os inertes, são elos de uma longa cadeia de causas e efeitos. Mas essa cadeia tem de chegar até uma causa primeira. Pretender que um número infinito de causas pudessem dispensar-nos de encontrar uma causa primeira seria a mesma coisa que afirmar que um pincel pode pintar sozinho

Há quem diga que é suficiente saber que os seres simplesmente existem. Que pouco importa saber de onde procedem e que, portanto, não é preciso pensar mais nisso. Então estaríamos perto de dizer que não se deve pensar. Porque renunciar a uma parcela tão importante do pensamento equivale a deixar de lado uma parcela importante da realidade.

Se vemos um paletó pendurado de uma parede (o exemplo é de Frank Sheed), mas não reparamos que está sustentado por um cabide, e isso nos leva a pensar que os paletós desafiam as leis da gravidade e se penduram das paredes pelo seu próprio poder, então não viveríamos no mundo real, mas num mundo irreal que nós mesmos forjamos.

Da mesma forma, se observamos que as coisas existem e não vemos com clareza qual é a causa pela qual existem, e isso nos leva a negar ou a ignorar essa causa, estaríamos saindo do mundo real.

Um Pequeno "Drible" Dialético

Mas alguns filósosfos afirmaram que a relação causa-efeito náo é senão uma dialética alheia à natureza, na qual os fenômenos se repetem de maneira incessante sem que essa relação de causa e efeito exista senão no nosso entendimento...

Não parece que a noção de causa seja uma simples elucubração humana. É algo que comprovamos todos os dias e que a ciencia não cessa de invocar.

"Se vejo umas crianças - observa André Frossard -a experiencia diz-me que não se fizeram por si mesmas. Talvez um filósofo afirme que não posso demonstrá-lo, mas também ele se veria em apuros para demonstrar que estou errado se afirmo que surgiram de umas couves".

Rejeitar dessa maneira a relação causa-efeito parece um atentado contra o bom senso. Na realidade, os que pensam assim, depois, na vida diária, não são consequentes com essa teoria.

Sabem, por exemplo, que, se meterem o dedo numa tomada, receberão o choque correspondente , e por isso procuram não faze-lo. Sabem que a relação entre esse ato e o choque elétrico não é uma "dialética alheia à natureza" que "só exista no seu entendimento"...até porque o seu entendimento não está nos dedos.

Quando - negando a evidência das causas - se diz que tudo o que existe é fruto do acaso, renuncia-se explicitamente ao uso da razão.

A fé cristã confia totalmente na reta razão, mediante a qual se pode chegar ao conhecimento de Deus. Para os que creem, a razão é inseparável da fé e deve ser respeitada como o que é, ou seja, um dom divino.

Mas se se pode chegar a Deus com as luzes da razão, para que é necessária a fé?

Não é difícil chegar a reconhecer que Deus existe. Acabamos de ver alguns raciocínios que nos levam a Ele, e veremos ainda muitos mais. De qualquer modo, nem sempre esse trabalho é fácil. Além de exigir - como acontece com todo o conhecimento - uma maneira reta de pensar e um profundo amor à verdade, é preciso levar em conta que, em muitos casos, nós, os homens, renunciamos a continuar a discorrer racionalmente, quando que contrariam os nossos egoísmos ou as nossas más paixões.

Penso que esta pode ser uma das razões pelas quais Deus se adiantou e, dando-se a conhecer mediante a "Revelação," como sabemos, nos estendeu a mão.

Assim, além disso, todos os homens podem conhecer todas essas verdades de modo mais fácil, com maior certeza e sem erros.

Parte 1 AQUI


Fonte: É Razoável crer? - Quadrante

Depois veremos: Um Conto de Fadas para Adultos

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