quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Como reconhecer o “dedo de Deus”?


Pesando as evidências

Por Padre Leo Trese

Certa vez, durante uma visita a um hospital psiquiátrico, uma senhora bem vestida barrou-me o caminho e, com o dedo em riste, disse-me solenemente: “Padre, eu sou Deus e tenho uma quantas verdades a dizer-lhe!” O médico que me acompanhava puxou-a suavemente para o lado, sugerindo-lhe que talvez fosse melhor escrever-me uma carta a esse respeito, e com isso encerrou o incidente.

Mas este pequeno episódio bem pode sugerir-nos uma pergunta que merece ser respondida: mesmo que admitamos que era preciso que Deus nos revelasse muitas verdades acerca de Si mesmo, que aceitemos a necessidade da Revelação, como podemos ter a certeza de que realmente foi Deus quem falou? Como saber se essas coisas que cremos nos foram reveladas pelo próprio Deus?

Muitas pessoas, ao longo da história, mesmo que excluamos os casos evidentes de perturbação mental, acreditaram estar em contato direto com Deus, proclamaram-se profetas ou mensageiros seus. Maomé, por exemplo, fundador da religião muçulmana, acreditava firmemente que tinha sido ao Arcanjo Gabriel quem lhes dera as instruções necessárias. E, em tempos mais recentes, temos o pastor Joseph Smith, fundador da religião dos Mórmons ou Santos dos Últimos dias, que assegurava ter sido guiado por um anjo chamado Moroni. Maomé e Smith são dois exemplos especialmente inúmeros, mas ao longo da história encontramos casos semelhantes

Deve haver, portanto, algum modo de reconhecermos a verdadeira voz de Deus, de sabermos quando é Ele quem realmente está falando; não seria razoável que nos deixasse tatear no escuro, no meio de um enxame de impostores. Ou, para dizê-lo de outra maneira, Deus tem de ter-nos dado algum padrão de comparação, uma espécie de "metro”, que nos permita medir, em cada caso, se determinada doutrina foi ou não revelada por Ele. Com efeito, esse “metro” existe.

A ciência teológica não lha dá, como é óbvio, um nome tão caseiro: fala dos “critérios da Revelação". Para aqueles que gostam de saber a origem das palavras, o termo “critério”deriva do grego Kriterion, que siginifica “instrumento de medição”.

Para determinar se determinada doutrina religiosa foi ou não revelada por Deus, costumam-se usar dois tipos de critérios internos: isto é, as provas intrínsicas (ou a falta de provas) de que a doutrina em questão tem um carater divino. Tem ela a beleza e a nobreza próprias que deveríamos esperar encontrar em quaisquer ensinamentos que vissem a Deus? Conduz o homem a uma maior grandeza e bondade, e está de acordo co as outras verdades reveladas por Deus que conhecemos?

Um experiente crítico de arte, ao examinar uma pintura, é capaz de afirmar se foi ou não pintada por tal ou qual grande mestre a quem é atribuida. Analisará os pigmentos utilizados pelo artista, as cores empregadas, a distribuição de luzes e sombras, e até a orientação das pinceladas, a fim de comprovar se todas essas características correspondem realmente às daquele pintor.

Da mesma forma, uma doutrina religiosa que afirme ter Deus por autor deve mostrar-se digna dEle, depois de uma análise detida. Uma doutrina que fosse trivial ou ridícula, ou que fosse prejudicial e conduzisse a efeitos maléficos, ou ainda contradissesse estabelecidas, mostraria ser falsa segundo esses critérios internos.

A seguir, vêm os critérios externos, as provas “provenientes de fora”. Há fundamentalmente dois tipos de evidências da ação divina, que servem para provar definitivamente se foi ou não Deus quem falou: as profecias e os milagres.

Uma profecia,
em sentido estrito, é a previsão de um acontecimento futuro que só Deus pode conhecer, ou seja, de um acontecimento futuro depende da vontade livre do homem e por isso não pode ser previsto. Tanto você como eu somos capazes de “profetizar”que o sol nascerá amanhã de manhã (desde que o mundo não termine hoje à noite).

Podemos também “profetizar”que comeremos peixe na próxima sexta, pois isso só depende de nós. Mas foi somente graças a uma especial inspiração divina que Isaías pôde profetizar que o Messias nasceria de uma Virgem; Daniel, apontar a data em que nasceria o Salvador; e Miquéias, indicar o lugar onde Ele haveria de nascer.

No Antigo Testamento, encontraremos centenas de profecias como estas. A mais esmagadora de todas, porém, encontra-se no Novo Testamento: é a que o próprio Cristo fez ao prever destruição de Jerusalém, que podemos ler no capítulo vinte e quatro do Evangelho de São Mateus. As palavras do Senhor cumpriram-se à risca apenas quarenta anos após a sua morte.

Para o homem comum, no entanto, os milagres constituem uma prova ainda mais convincente de que foi Deus quem falou. Quando acontece algo que ultrapassa por completo o funcionamento normal da natureza, algo que só um poder sobranatural seria capaz de realizar, temos o direito de exclamar: “Aqui está o dedo de Deus!”

Mas teremos de deixar para mais tarde a discussão dos milagres como critério ou “metro”da Revelação. Antes temos de demonstrar que a nossa principal fonte de informações, os Evangelhos, são uma fonte histórica digna de crédito, mesmo para as pessoas que não acreditam que a Bíblia seja a Palavra de Deus.

O “Manual de Instruções”

Se algum bom amigo me presenteasse com um desses complicados aparelhos atuais – como um aparelho de som, um “três em um” ou equivalente -, a primeira coisa que eu faria, depois de abrir o pacote, seria procurar o manual de instruções. E se algum curioso ali presente dissesse: “Ora, não deve haver manual nenhum aí “, eu lhe responderia: “Mas é evidente que tem de haver. Nenhum fabricante seria capaz de vender um equipamento destes sem explicar como funciona e que cuidados se devem tomar”.

Da mesma forma, quem busca sinceramente a verdade, uma vez convencido da necessidade e da possibilidade da Revelação divina para que a humanidade possa conhecer o significado da vida e os seus deveres para com o Criador, começará por informar-se acerca do “manual de instruções”. “Deus deve ter falado”, dirá, mas onde encontrarei a sua mensagem?

Se a nós, católicos, nos pusessem esta questão, o nosso primeiro impulso seria responder:”Ora, Deus fala-nos através da sua Igreja”. Mas logo perceberíamos uma lacuna no nosso raciocínio: não podemos passar da afirmação “Deus falou através da Igreja”sem cruzarmos uma ponte que estabeleça o laço de união entre ambas. E esta ponte é a Sagrada Escritura.

Diríamos, pois, ao nosso hipotético amigo: “Aqui está um livro chamado Bíblia. Nós, os cristãos, cremos que o próprio Deus inspirou os que a redigiram para que escrevessem somente o que Ele queria que ficasse escrito, e que Ele próprio impediu essas pessoas de introduzirem erros naquilo que iam escrevendo”. E continuaríamos: “A Bíblia divide-se em duas partes: Os livros que foram escritos antes do nascimento de Cristo – o AT -, e o NT, que contém os textos redigidos após sua morte.

Espere um minuto!”, diremos ao observar sinais de impaciência no nosso interlocutor. “Ainda não lhe estou pedindo que creia ser a Bíblia um livro inspirado por Deus. Por enquanto, basta-me que você a aceite como um livro de valor histórico, tal como aceitaria o valor de testemunho histórico de qualquer outro livro antigo, como por exemplo o "Sobre a Guerra de Gálias", de Júlio Cesar, ou as "Antiguidades judaicas", de Flávio Josefo. Além disso, para simplificar um pouco as coisas, deixemos de lado o AT e concentremo-nos apenas nos quatro Evangelhos”.

A seguir, motraremos ao nosso amigo que, se os Evangelhos são relatos históricos exatos e autênticos, qualquer pessoa razoável terá de aceitar como certos os fatos que neles narram. Depois, caso conheçamos a nossa religião como deveríamos, mostrar-lhe-emos que a credibilidade de qualquer obra histórica depende de três pontos:

1 – Da sua integridade, isto é, de que o texto atual corresponda efetivamente ao que o autor escreveu, sem acréscimos ou alterações.
2 – Da sua veracidade, isto é, de que o autor efetivamente tenha conhecido bem os acontecimentos que narrou.
3 – Por fim, da sua autenticidade, isto é, de que realmente tenha sido escrita pela pessoa a quem se costuma atribuir a sua autoria.

O passo seguinte será mostrar-lhe que os quatro Evangelhos – os quatro relatos sobre a Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João – cumprem plenamente esses requisitos, ou seja, são relatos históricos inteiramente dignos de confiança e, portanto, cheios de autoridade.

É provavel que o nosso interlocutor , como a maioria das pessoas de cultura mediana, ignore quase por completo o imenso trabalho crítico , tanto do ponto de vista científico como histórico, a que foram submetidos aos quatro Evangelhos. Gerações inteiras de estudiosos da Bíblia – católicos, protestantes e agnósticos – prescrutaram meticulosamente as Sagradas Escrituras, procurando discrepâncias e evidências de erro ou fraude com muito mais cuidado do que qualquer serviço de contraespionagem empenhado em descobrir espiões durante uma guerra.

E qual foi o resultado deste trabalho? A comparação com os mais antigos manuscritos disponíveis mostra, para além de qualquer dúvida, que os Evangelhos foram transmitidos até nós sem nenhuma mutilação ou alteração substancial. As pequenas diferenças que se observam entre as diversas versões – erros de ortografia ou transposiçoes de palavras – são tão irrelevantes que não tem consequência prática alguma.

Mais ainda: esses “detetives” da Bíblia estabeleceram, com um volume de provas que satisfaria o juiz mais escrupuloso , que os quatro Evangelhos foram escritos por testemunhas oculares ou por seus discípulos imediatos, e narram coisas que essas pessoas viram ou ouviram diretamente.

A evidência demonstra, além disso, que não se tratava de uns tolos; o cético Tomé, por exemplo, que tanto resistiu a aceitar a Ressurreição de Cristo, é um exemplo da teimosa incredulidade dos Apóstolos. Uma e outra vez, o Senhor teve que censura-los pela sua pouca fé.
Por outro lado, os Apóstolos também não eram uns farsantes ou mentirosos, pois todos e cada um deles terminaram dando a sua vida em testemunho da verdade que pregavam.

Por fim, os estudiosos da Bíblia são virtualmente unânimes em afirmar que os quatro Evangelhos foram efetivamente escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. Alguns historiadores não-católicos chegaram a duvidar da autenticidade do Evangelho de São João, não porque a evidência em seu favor fosse fraca, mas simplesmente porque não é tão esmagadora como no caso de Mateus, Marcos e Lucas. Também aqui a evidência é definitiva.

Portanto, os Evangelhos são obras históricas absolutamente acima de quaisquer suspeitas. Só pudemos, aqui, esboçar a argumentação de maneira muitíssima resumida e esquemática. . Se o nosso amigo cético desejasse entrar em detalhes, teria de recorrer a algum manual especializado. Mas, de um modo ou outro, no fim das contas terá de admitir a integridade, veracidade e autenticidade dos Evangelhos; uma vez superado este ponto, poderemos então levar adiante o nosso raciocínio.

Fonte: A sabedoria do Cristão

1 - O Cristão e o descrente
2 - As Razões de nossa Esperança
3 - Deus existe? do nada, nada se cria
4 - Razão, Ordem e Evolução
5 - Que é o homem? Criação ou Evolução?
6 - Imortal e Livre
7 - Como começou a Religião?
8 - Por que devo ter uma religião?

Depois veremos: As Credenciais de Deus

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