terça-feira, 20 de setembro de 2011

Purificai o Meu Coração


8,05

Por padre Leo Trese

Relembrando um pouco a minha vida passada, pergunto-me como fui capaz de habituar-me a celebrar a Missa como se o demônio estivesse agarrado a orla da alva.

Pensando melhor, talvez estivesse.

Realmente, houve qualquer coisa de insidioso no modo como passei dos primeiros dias do meu sacerdócio, quando a Missa era algo que saboreava e amava, para esse outro período em que me preocupava mais de celebrá-la às pressas do que de saborear a sua beleza.

Agora fico vermelho de vergonha só de pensar que, voluntaria ou involuntariamente, costumava preferir as fórmulas mais breves; que ficava impaciente se as pessoas presentes diziam arrastadamente "ó Senhor, tende piedade de nós"; que me sentia interiormente contrariado se a Missa precisava de Glória ou Credo.

Parece impossível, mas assim era, na verdade. Provavelmente, os meus movimentos e gestos acompanhavam o meu falso sentido de urgência. Nunca ninguém me disse que, com meu nervosismo, estava comprometendo a solenidade da Missa. O curioso é que foi uma pessoa de outra paróquia, que nunca me tinha visto celebrar, quem me trouxe ao bom caminho.

Contava-me como lhe agradava assistir a Missa do padre Quamprimum*. (Quamprimum, em latim significa "quanto antes"). "O Senhor, - dizia-me ele -, devia ver como celebra! A Missa, a homilia e a Comunhão, tudo em vinte e cinco minutos. Isso é que é uma Missa!".

E pôs tal enfase na observação que só a pude interpretar como um motejo. Sinto-me humildemente agradecido por ter feito cara de nojo ante o seu sorriso estúpido. Como uma bomba de ação retardada, o meu eu acusou o golpe: "Meu Deus, quem sabe se alguma vez não dirão isso de mim! Quem sabe se não estarão dizendo agora!"

Por graça de Deus, pouco depois atingiu-me outro golpe de misericórdia. Um dos meu paroquianos, um desses pais genuinamente católicos, comentou-me quando estava gostando da Missa de um missiónário que se encontrava entre nós de passagem. Não havia malícia nas suas palavras, mas não pude deixar de notar que, embora inocentemente, pensava em mim ao dizer:"Estou gostando de ouvir a Missa do padre M; faz-me sentir que tudo nela tem importância". E eu que já começava a criticar o padre M. pela sua lentidão!...

Em consequência, tentei celebrar mais devagar, mas não foi fácil, sobretudo no começo. Custou-me bastante passar a pronunciar todas as palavras com precisão e clareza. Demorei tempo a coordenar os gestos com as palavras que os acompanham. A princípio, preocupava-me o que lera há tempos no livro de Faber: um esforço consciencioso para dizer a Missa devagar não é devoção, antes demonstra que pensamos mais em nós mesmos do que em Cristo.

Por fim descobri que o inverso é igualmente verdadeiro, e que, se amamos a Cristo, a Missa será também regulada por esse amor, e o altar nunca mais se transformará numa pista de corrida.

Ontem à noite passei pelo salão paroquial, para ver os jovens da Ação católica ensaiarem um drama. O contra-regra repetia-lhes constantemente que não deviam correr: "Vocês acham que vão devagar - dizia-lhes - mas aqui fora parece que estão com pressa. Lembrem-se de que , para que os seus movimentos pareçam normais à assistência, vocês devem achá-los exageradamente lentos, até se habituarem".

A Missa também é um drama, pensei de mim para mim. E seria bom que, pelo menos de vez em quando, houvesse um diretor de cena, sentado num banco, que me repreendesse.

Fonte: Vaso de Argila

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