sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Por todas as Intenções



8,15

Por padre Leo Trese

"Lembrai-Vos, ó Pai, dos vossos filhos e filhas.."* Este é o momento da Missa que me dá forças e consolo para o resto do dia.

*(Palavras do memento dos vivos, da Oração Eucarística I, a que o autor se refer nas páginas que se seguem).

Ao juntar as mãos e inclinar a cabeça, pergunto-me se os outros padres passarão por momentos de angústia iguais aos meus: momentos em que a consciência da vastidão do meu trabalho e da minha inépcia parecem oprimir-me como um fardo insuportável; momentos em que tenho a impressão de estar lavrando um campo de quarenta alqueires com um palito; momentos em que o sentimento de frustração parece minar as nossas iniciativas e sufocar as mais legítimas ambições de um sacerdote.

Suponho que estes estados de ânimo momentâneos poderiam ser atribuídos a perturbações glandulares ou de deficiências hormonais - se não fosse porque o que realmente falta é fé.

No fim das contas, que é que salva as almas? Ele ou eu? Que importa que eu ande por aí a dar cabeçadas contra a parede? Ele não precisa de mim para alcançar os seus objetivos. Sou como uma criança que quer ver os seus deveres de casa cuidadosamente marcados com um "dez" na margem da página.

Lembrai-Vos, ó Pai...Sim, este é o momento em que as angústias parecem mesquinhas, em que erros se corrigem e os fracassos desaparecem. Diante de mim, a Missa derrama a sua inextinguível torrente de graças. Mal posso formular intenções suficientes para deter a sua magnifíca exuberância. Mas dura tão pouco! Não chega para nada. Tudo o que posso dizer é: "Senhor, por todas as intenções de que Vos falei na minha oração desta manhã".

É uma lista muito longa, cujo índice sofre diariamente adicionamentos e modificações.

"Por todas as intenções do vosso sagrado Coração, mediante a intercessão de Maria" - assim começa a minha ladainha, na qual peço por todos aqueles de quem me consigo lembrar.

"Peço-vos pelos meus pais...pelos meus paroquianos, especialmente pelos indiferentes e pelos pecadores...(agora em particular pelo velho Joe Marron, que resiste tão obstinadamente, e por Clem Snyder, que se casou na semana passada na igreja luterana); pelos não católicos que pertencem a minha paróquia, em especial pelos que estou catequizando ou já catequizei...; pelas crianças, especialmente pelas que estudam em escolas laicas...; pela graça das vocações sacerdotais nesta paróquia, sobretudo por Tommy e Don, que já estão "pensando nisso", e pela preseverança dos que responderam a vossa chamada...

"Por mim mesmo, Senhor, em agradecimento pelas inúmeras graças que recebi, em reparação dos meus pecados, pela graça da perseverança final... para que não me falte fé, amor, pureza e zelo no vosso serviço..., a fim de que possa cumprir sempre a vossa Vontade, seja ou não do meu agrado, saiba ou não que a estou cumprindo.

Fazei-me perseverante...

"Pelos meus parentes, amigos e benfeitores; por todos aqueles por quem devo ou desejo pedir, especialmente por aqueles que me foram confiados ou por quem de algum modo sou responsável; fazei com que nenhuma alma se perca ou sofra por minha culpa".

(Neste momento, a memória encarrega-se de agitar algumas recordações desagradáveis, que só podem ser apagadas pelo infinito caudal da Missa: o jovem Eddie, que expulsei do colégio quando, com um pouco de paciência, podia ter consertado a situação; os descrentes Morelli, que podiam ter-se convertido se eu tivesse sido um pouco mais indulgente quando procuravam dar sepultura cristã ao avô e eu os repeli tão asperamente. Quando medito no Juízo Final, não são os meus pecados que me fazem suar de medo - Deus os cobrirá com a sua graça - mas as minhas negligencias de pastor; é nisto que terei de haver-me com a justiça...)

"Pelo Papa, pelo meu bispo, pelo bispo que me ordenou, pelos párocos que me guiaram e pelas Irmãs que contribuiram para a minha formação; por todos os sacerdotes e religiosos, principalmente de minha diocese, e em particular pelos que se extraviaram, sobretudo por N. e N. (Senhor, por que graça estou eu aqui, ao passo que eles se perderam?); pelos missionários neste e em outros países, para que sejam confortados por Vós nos seus momentos de desanimo e ajudados no seu trabalho pela Vossa graça..."

Sim, é uma lista muito grande e cheia de ramificações, de imagens suscitadas pelo mal feito e pelo bem que ficou por fazer, se pessoas em necessidade e de almas aflitas, de responsabilidades esquivadas e de graças desperdiçadas... Como foi bom ter reservado estes dez minutos de minhas orações matutinas para enunciar as minhas intenções diárias!

Como é bom também que a Missa seja uma torrente inesgotável! Há tanto que pedir, tanto!...

E de todos que circundam este altar... No momento em que abro os braços, o meu fardo tornou-se mais leve e os meus nervos tranquilizaram-se.

Trabalhando com a graça de Cristo nos meus problemas, só um tolo se afligiria.

Fonte: Vaso de Argila

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Depois veremos:

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